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Escrevinhador barato, compositor, leitor voraz, cozinheiro, músico e bancário nas horas vagas

domingo, 4 de setembro de 2011

Saudades do Bar Getúlio

Mas um pedacinho do Baú do Eulerzito, espiralado como só ele.


As mocinhas disfarçadas de clementes, sorvem suas sodas, fervem em suas pantalonas, quase italianas nessa petit Paris com gosto de sardinha frita e maresia oleosa. As buzinas me acordam, lembrando-me que aqui no sul não existe pecado... que não tenha sido cometido. Por mim, sigo aqui minha rotina, sempre duas doses acima. O normal, como já disse, não existe. Forte ou fraco, alegre ou são, certo é que, triste, rodo pela avenida, num misto de porta bandeira e peru bêbado, levado pela consciência dos fins que levaram ao fim.

A vitrola da memória oitentista diz "Don't dream, it's over" e é bem verdade, pra mim, que sou mais velho que um Raul mesopotâmico, mas, au contraire, não aprendi tanto e tenho muito nesse mundo que ainda não sei, confesso.

Os livros na estante são, hoje, último refúgio, antes de tiranizar-me na busca da perfeição travestida em brazilian wax e sobrancelhas bem tiradas. Pondero sempre a validade disso: Veríssimo afirma que, ao cabo, o ideal é ter quem coce suas costas; o Vina, on the other hand, sempre sustentou para os seus que deveriam viver um grande amor, efêmero que fosse; uma lindinha de nome composto me ha dicho que basta "O" amor, aquele, o grande, o maior. Como concordar com os três e ainda me perder entre o cós daquela calça justa, daqueles peitos fabricados? É o tipo de equação que não fecha, soterrada em números complexos. 

Conversando, qual louco, com o porta guardanapos, ouço respostas das mais lisérgicas de gatas extraordinárias, mais sobrenaturais que comercial de Guaravita. O cogito, aquele pré-socrático e cartesiano ao mesmo tempo, me manda mandar às favas todos os preceitos kantianos da crítica, violão em punho, e fazer serenatas suburbanas, suítes leopoldinas em pleno 415 e partir agora para mais uma vez jurar amor eterno e ouvir a nostalgia em pessoa cantando loas ao que passou, relembrar o Expresso da Vitória e dar nome aos bois: isto se chama passado, por mais que você jure pela imagem da Santa Cruz e do Redentor.

Eu, em pleno dia de preto velho, 13 de Maio do resto da vida, vislumbrando um catorze que nunca chegará, plantado no quarto andar de uma existência etérea, K2 do coração, cheia de sinapses incompletas e digressões mal resolvidas.

As que se me apresentam prontas, em contrapartida, que poderiam ser enquadradas como melhores amores, maduros ou juvenis, vêm aos borbotões. Não é sua culpa, me perdoem. Não exemplo de nada que não filho e amigo. Sou, antes, um grande mentiroso, um mentecapto sabiniano, doido para sentir o cheiro da tinta rubia que cobre as franjas daquela danada e ainda inundam minhas tão maltratadas memórias.

Acho que cheguei ao limite, no ponto de mandar estes escritos disléxicos para todas as mulheres do mundo e viver a partir de agora criando a ideal, um robozinho, Frankenstein mal ajambrado que sou, a partir de pernas de Maria, rostinho de Joana, peitinhos de Aninha, língua de Adriana, cabeça de Simone, sexo de Beauvoir. Transferir meu amor como camisinhas no carnaval: em pílulas. Apagar o passado tal qual um Ratzinger beatificado, um FHC das memórias, fazendo deste o início do novo roteiro de um longa, pedindo: esqueçam o que vivi, com o narrador em off começando a película dizendo: em Brasília, sete horas (O Guarani ao fundo). Mais uma noite se inicia na República Federativa do Catete, Bar Getúlio ainda fechado, sentinelas a mil, mas ainda tem chope gelado.