Quem sou eu

Minha foto
Escrevinhador barato, compositor, leitor voraz, cozinheiro, músico e bancário nas horas vagas

sábado, 27 de outubro de 2012

@ArnaldoBloch

Arnaldo Bloch nasceu no Rio de Janeiro em 1965, cidade onde vive. Escritor e jornalista, foi repórter da revista Manchete e correspondente em Paris. Trabalha desde 1993 no jornal O Globo, onde tem coluna semanal, tendo publicado o poema (espetacular) abaixo, que tive que trazer para cá - mesmo sem sua autorização - para dividir com vocês, caros amigos, além de render minhas homenagens. O poema também pode ser encontrado no link abaixo. Divirtam-se e bom fim de semana.

http://oglobo.globo.com/cultura/autorretrato-6544684

Autorretrato

Eu durmo muito. E viajo pouco. Tenho ciclos importunos.
Meu compasso é louco.
Eu vivo à noite. Eu morro de dia. Não pego sol. Minha praia é assepsia.
Eu não reparo nas roupas. Fico em casa aos sábados. Desconheço a balada. Não participo de nada.
Eu nunca dei porrada. Minha parada é parado. Meu enfado é um evento.
Minha festa é pensamento.
Vou ao cinema sozinho. Ponho roupas molambentas. Meu armário está vazio.
Meu lençol não tem fio.
Aprecio a temperança. Não estou pronto pra todas. Perdi o gosto pelo uísque.
Sou o rei dos tiques.
Tenho um quê paquidérmico. Leio o que desejo. Não sei quem são os bons.
E me entupo de sitcoms.
Vejo mais do que ajo. Não sei fazer rima. Minha novela é o silêncio.
Odeio adrenalina.
Não vejo vida nos limites. Gosto de felicidade pequena. Creio em ideais.
Mas nunca entro em cena.
Eu conheço a solidão. Abomino a culpa. Amadureço lentamente.
E tenho os sonhos de um cão.
Eu assassino a ansiedade. Tenho fé num átimo. Não sei onde fica a cidade.
E não acho nada o máximo.
Eu medito sem medo. Vejo a lua se pôr. Eu detesto acordar cedo.
Tenho teorias sobre o amor.
Eu aguardo o momento. Tenho os olhos no céu. Sem intento, sem desejo.
Só um ensejo, ao vento.
Meu tesão vem do vazio. Minha ideia vem do sono. Meu sexo vem de Marte.
Meu oceano fica à parte.
Eu vivo no cochilo. Meu grilo é um gracejo. Meu sorriso é um suspiro.
Meu choro, um cochicho.
Meu amor é só um trilho. Meu segredo é o mundo. Meu plano é a Terra.
Meu coração não bate. Erra.
Meu abraço é uma esfera. Meu retrato é uma lente. Meu pulmão é um rastro.
Minha palavra, demente.
Minha letra é um entalhe. Meu ar é de pedra. Desfaleço diariamente.
E ressuscito no detalhe.
Eu amo nas entrelinhas. Desejo quietude. Caso-me com o espírito.
E aborto a saúde.
Eu injeto o incerto. Eu engulo os dejetos. Sou o monstro das verdades.
Eu nunca estou certo.
Eu desprezo a cartilha. Psicografo a liberdade. Redesenho a armadilha.
E me esqueço, ao relento.
Eu sou o pior rebento. Sou o anjo relutante. O demônio sem veneno. Eu congelo o instante.
Eu morro de calor. Tenho horror ao esquadro. Meu quadro é a moldura.
Meu destino não tem cura.
Minha cúria é um átomo. Meu reino é fogo fátuo. Eu durmo muito tarde.
Meu rumo arde.
Minha insônia é sônica. Meu despertar é um rugido. Eu ronco acordado.
Sou mudo, bastardo.
Tenho maus modos à mesa. Faço barulhos absurdos. Sonho com lugares cíclicos.
E rejeito o absoluto.
Vejo balões no infinito. Suspeito do 8 e 80. Disco 0800. E ouço o terrível grito.
Meu desespero é uma reta. Minha alegria, uma seta. Meu objetivo é um espirro.
Meu acerto é o desterro.
Meu desvio é marasmo. Meu pasmo é o óbvio. Meu despertar é um espasmo.
Meu orgasmo não se inscreve.
Meu voo é uma hérnia. Minha queda arremete. Meu corpo é um espaguete.
E meu íntimo, uma úlcera.
Meu nascimento é um fosso. Minha cultura é um vácuo. Meu discurso, um caroço.
E meu rosto, um número.
Meu gosto é roxo. Meu gesto é coxo. Meu olho é uma lágrima.
Que não corre desde o útero.
Meu socorro é um corvo. Minha persona, um cachorro. Minha tristeza é meu nome.
E minha fome, informe.
Minha sorte é um trovão. Tenho medo de avião. Sou aquele que não vem.
Não cheguei, não fui, não sei.
Eu vim de mim. Não trago novidades. Eu perdi a referência.
Nem sei qual é minha idade.
Minha música é um rabisco. Meu caderno é imundo. Meu caráter corre risco.
E minhas mãos escorrem, fundo.
Minha alma é um órgão. Minha palavra, um acórdão. Meu altar não tem assento.
Estou no limiar do tempo.
Minha pele nada expele. Meu espelho não me enxerga. Meu ouvido olvidou-se.
E meu nariz não cheira.
Meu passado não tem eira. Meu futuro é um furo. Estou à beira da beira.
Meu abismo é um muro.
Eu não tenho nenhum ego. Meu inconsciente ruiu. Não passo de um cego.
Que o acaso pariu.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Até o Super Man...



Na edição nº 13 da próxima revista Superman a ser publicada nos EUA, o mítico herói da capa vermelha decide largar o jornalismo formal. Por não concordar com os rumos editoriais do Planeta Diário, Clark Kent abandona o matutino e passará a publicar em um blog. Segundo o autor, ele está mais para criar um novo Huffington Post do que procurar emprego em outro veículo.

Tirei a notícia de um post feito por um usuário do (ótimo!) blog do Nassif

Seguem abaixo os links das notícias. Divirtam-se.

No Mashable

No Bluebus

No Bem Paraná

No Último Segundo

O que é a tua casa???

Já repararam com que força nos sentimos fracos quando estamos em nossa casa? Como nos bastamos? Acho bastante injusta a pouca relevância que se dá à palavra "lar" em nosso tão amado português. 

Cá estou eu, curtindo uma receita nova de café (depois conto, ok?), ouvindo um disquinho de Compay Segundo (lembra Mariana Santos?), sentadinho numa poltroninha que já foi do velho Tonico nos seus últimos dias, mirando meus livrinhos e meus brinquedos e, apesar de morar em uma das cidades mais maravilhosas do planeta, não tenho tesão algum em sair daqui hoje.

Quando conseguimos encontrar um lugarzinho para chamar de nosso, mesmo que as paredes sejam de outrem, somos suficientes. Somos mais.

E o assombroso em morar no Rio (ou em São Paulo, Porto Alegre, Nova York, Bogotá ou Paris) é que raramente damos valor a isso, nesta vida atribulada a que fomos enredados - voluntariamente ou não. Temos sempre que estar super dispostos à balada, ao bar da moda, ao melhor restaurante, à última dos impressionistas franceses, ao quiosque da praia, ao mais novo DJ canadense ou à novidade da música argelina; sempre dispostos, de pau duro, encantados com o escritor hypster do momento, tendo-o lido ou não.

A casa da gente, por mais que não confessemos, é como a mulher amada: não sabemos o porque de a amarmos e estamos sempre insatisfeitos com isso. Sempre achamos que a gostosa do outro lado da rua é a melhor escolha, que a cerveja do bar é mais gelada, que o clichê da grama é verdade, que a atriz nua da peça será a melhor trepada da história.

Minha casa é meu bunker. É o abrigo antibombas (junto ou separado, reforma?) onde reúno meus amigos, seus amigos, seus conhecidos, aprendo a ouvir minha velha coroa resumindo como a novela anterior era ótima e como esta promete ser melhor ainda. É um santuário da diáspora petropolitana, onde deságuo o rio de incompreensões que saltam da alma.

Nesta tarde, que já vai virando noite, percebo como sou um bobo de não passar mais tempo em casa. E com isto vou aprendendo também a pensar na gostosa que por vezes a habita, vendo o quão verde é seu capim ao pegar uma breja vestida em seus óculos lindos.